segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Dentro da caixa marrom não vivo mais.

Foto: Santo Antônio


Cada dia que passava a caixinha ficava mais apertada, a solução era sair, criar formas, ter a cara do mundo, se é que mundo tem cara, esculpir um coração que bate, mesmo que a cabeça esteja prestes a explodir.
Não me risca e me faça pegar fogo, assim eu morro, assim eu viro pó, pinte meus quadris, desenhe um nariz, me faça virar pássaro, quero asas, quero pena, quero cajado de Santo Antônio, quero ser santa de manto azul, e não abro mão, não quero mais ser jogado pela janela, me conte um segredo, eu guardo, que assim lhe conto como é viver nesse corpo de Olívia, e se me chamam de palito, admito, só se for colorida dos pés a cabeça.
Vida longa ainda devo ter, ainda moro em uma caixa, relaxa, agora tenho céu pintado de azul, tem dia que sou peixe e vivo no mar, tem dia que sou foca e passo o dia a brincar, e quando São Jorge, meu cavalo nem penso antes de montar, deixei de ser palito há muito tempo.


Inspiração: Santiago Calonga - http://www.flickr.com/photos/santiagocalonga/